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  • Foto do escritorGabriel Quintanilha Advogados

Por que o Brasil também sente os efeitos colaterais do conflito na Ucrânia?

Atualizado: 26 de out. de 2023


Quem já brincou de enfileirar as peças de um jogo de dominó e deu um empurrãozinho na primeira sabe o que ocorre com todas as outras, da segunda até a última.

Por mais que o Brasil esteja a 10.686 quilômetros da Ucrânia, em um mundo globalizado, com peças conectadas, o que ocorre por lá vai impactar aqui.

Em meio às tensões em território ucraniano, o mundo inteiro viu novas incertezas baterem à porta enquanto muitos países ainda buscavam a saída da crise econômica anterior, causada pela pandemia de COVID-19.

Não só o conflito em si, mas as sanções antirrussas promovidas pelo Ocidente vão — e já estão — produzindo efeitos econômicos em diversas nações do globo.

Isso porque a Rússia é a segunda maior exportadora de petróleo do mundo, atrás apenas dos Arábia Saudita.

Petróleo bruto, derivados e combustíveis fósseis, como gás natural e carvão, correspondem a 56,9% do total exportado pelo país e 11% das exportações mundiais desse segmento, segundo dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).


Entre outros produtos russos, o trigo aparece com 16% das exportações mundiais.

Com menor participação global, a Ucrânia exporta óleo de girassol, milho e trigo, que representam, respectivamente, 19%, 4% e 3% das exportações totais.


Embora não seja grande importador dessas commodities, o Brasil também é severamente impactado pelas restrições aos produtos russos e ucranianos devido ao aumento da demanda dos importadores a outros países, segundo economistas consultados pela Sputnik Brasil.


O país pode não depender do trigo russo, mas importa o produto da Argentina: 76,4% das importações brasileiras vêm do país vizinho. Os especialistas explicam que o aumento da demanda em outros mercados pressiona a inflação e pode gerar escassez.


Além disso, Rússia e Belarus respondem por 30,5% das exportações de fertilizantes potássicos e o Brasil é o maior importador do produto e principal parceiro dos países.


Brasil já sente os efeitos econômicos do conflito na Ucrânia?

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que não só o Brasil, mas o mundo inteiro já está sendo impactado após pouco mais de um mês da crise ucraniana.


Segundo o economista e professor de Finanças do Insper Alexandre Chaia, a consequência mais imediata no bolso dos brasileiros até agora tem sido a alta no preço dos combustíveis.


Com o conflito na Ucrânia somado às sanções contra a Rússia, os recursos disponíveis em outras praças sofrem maior procura e ficam mais caros.

"Os preços das commodities de energia, como gás e petróleo, subiram porque a Rússia e a Ucrânia são grandes fornecedoras de petróleo, e a escassez vai impulsionar o consumo de outros mercados", afirmou Chaia.

O economista e advogado especialista em Direito Tributário Gabriel Quintanilha ressalta que a alta do preço do petróleo impacta diretamente na inflação do país. Para ele, "há uma tendência de que fiquemos sob o jugo" das oscilações nesse setor.

No entanto, o especialista alerta que um "impacto muito relevante" para o Brasil será sobre as importações de insumos agrícolas, principalmente fertilizantes.

"Afetará inclusive o preço da carne, porque a produção de frangos e derivados depende dos fertilizantes. O governo precisará substituir essas importações para estabilizar nosso mercado", apontou Quintanilha.

O economista da FGV Mauro Rochlin afirma que um modelo de escoamento de produção majoritariamente rodoviário em um país continental agrava a situação brasileira, gerando "importante impacto final no preço dos produtos em geral".

"O conflito na Ucrânia, ao provocar escassez de alguns produtos, notadamente petróleo, trigo e milho, faz o preço dessas commodities aumentarem no mercado internacional, com consequências muito evidentes nos mercados locais", afirmou Rochlin.

Como minimizar efeitos na economia nacional?

O economista Gabriel Quintanilha aponta um caminho para o Brasil mitigar os impactos externos na economia: reativar a indústria nacional.

"Na década de 1990, o país era praticamente autossuficiente na produção de fertilizantes. Com a perda industrial nos últimos anos, o Brasil sofreu profundamente esses prejuízos. Por isso é necessário retomar a produção em casa em substituição às importações", disse ele.

O economista Alexandre Chaia acredita ser difícil que a economia nacional sobreviva a uma nova crise do petróleo.

"Mesmo sendo autossuficiente em produção e refino de petróleo, o país teria que aumentar o preço para seguir a tendência mundial, pois a Petrobras é uma empresa privada de controle público", afirmou o professor do Insper.

Segundo Chaia, do ponto de vista estratégico, o que o Brasil precisa é seguir o mundo na reorganização de cadeias globais de produção. O especialista aponta que a pandemia e agora o conflito na Ucrânia deram esse indicativo de mudança.


Todo aumento de preço global impacta o preço local'

Para o professor de Finanças do Insper, o país precisará alterar seu atual modelo de importação de combustíveis para se adequar aos novos desafios e demandas mundiais.

"Vai acontecer, mas não deverá ser autossuficiente. Esse modelo já foi tentado pelos militares, e o Brasil ficou para trás. O mundo se expandiu", disse Chaia.

Segundo ele, a solução é montar uma cadeia de suprimentos de fornecedores diversificados para não ficar dependente de um único produtor.

"No caso de um choque, como agora, ou em uma pandemia, é inevitável que os preços subam. Então, mesmo com produção 100% nacional, não faria sentido imaginar que o país estaria imune a situações globais", avaliou.

Mauro Rochlin, da FGV, afirma que, no modelo capitalista vigente, o governo não deve congelar preços a cada nova crise para socorrer a população. Segundo ele, políticas com objetivo de evitar os impactos do custo das commodities "são completamente ineficazes".

"Acabam até conseguindo algum controle no curto prazo, mas no médio e longo prazo trazem um custo maior ao consumidor", disse.

Na mesma linha, Chaia destaca que não teria lógica impor ao produtor a perda do lucro que ele teria vendendo com os preços do mercado internacional.

"Todo aumento de preço global impacta o preço local, porque o produtor brasileiro tem a oportunidade de vender fora", afirmou.

Fonte: Sputnik

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